Hoje a resenha é sobre um livro que ganhei de presente de uma amiga, além de ter sido escrito por um dos meus autores favoritos, José Saramago.
"(...) A pretexto de escrever um livro sobre a história da construção de um convento em Mafra no século XVIII, Saramago inventou uma história outra, na qual entram outras famílias inesquecíveis a dos Sete-Sóis e a da Sete-Luas, e mais padre Bartolomeu de Gusmão com sua passarola, e o compositor Scarlatti com seu órgão e sua música, e mais reis e rainhas e princesas, e mais uma pedra descomunal que precisa ser transportada a longa distância, e o que acontece durante o transporte. Que pretende - e que consegue - José Saramago com seus livros poderosos? Para mim, isto: fazer o que fez Homero antes dele, isto é, escrever histórias aparentemente reais mas inventadas com tanta competência que depois de lidas passam a ser reais e a fazer parte da longa e sofrida experiência humana. Minha sugestão é: descubram José Saramago e façam dele uma possessão ultramarina particular de cada um e aproveitem."
Autor: José Saramago
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 852860022X
Ano: 2004
Páginas: 352
Não existem Spoilers nesta resenha
Memorial do Convento conta três histórias amarradas todas em um mesmo ambiente. Conhecemos logo no início Dom João V que sonha em ter um herdeiro, porém, depois de muito tempo sua mulher nunca engravidou, então El rei promete construír um convite Franciscano em Mafra, se sua mulher engravidar - ainda que seja menina.
Como na maioria dos livros de Saramago, bem no começo, já nos deparamos com uma crítica a religião. Chega o dia tão " esperado" por muitos, o dia da caçada e condenação de todos considerados bruxos e não religiosos ( hereges em geral) , que de acordo com a rainha, é um dia divertido, quase de festa.
Neste dia a mãe de Blimunda é pega e condenada a ser morta, esta parte nos mostra a carga emocional e o quão era a inquisição, eu fiquei triste em ler os comentários de ambas. Blimunda tem o dom de ver por dentro das pessoas, seu coração, suas intenções. Durante a movimentação da condenação da mãe, ela conhece Baltazar sete-sóis e desde então começa um romance considerado errado para os conceitos da época, mas eles são tão perfeitos um para o outro, é um romance tão comovente. Após unir-se com Baltazar sete-sóis, um ex-soldado de guerra que não tem uma mão e utiliza um gancho em seu lugar, Blimunda passa a chamar-se Blimunda sete-luas.
E por fim temos o Padre Bartolomeu, que, sem temer os julgamentos de bruxaria, sonha em voar. Pe. Bartolomeu começa então a construir a Passarola, um transporte que movido a forças misteriosas pode realizar este sonho. Com a ajuda de Baltazar e Blimunda conhecemos cada vez mais este trio. Porém, durante uma manutenção na geringonça, Baltazar voa e não volta mais e Blimunda sai a sua busca.
Acompanhamos também a construção do Convento, os Franciscanos e fiéis indo para lá.
"... que os homens são nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer, isso mesmo fizemos com o cérebro, se a ele fizemos, e elas faremos, adeus minha mãe, adeus meu pai. "
Este é mais um dos romances históricos de Saramago. Se passa em um momento histórico real e mostra a inquisição, mostra a realeza e desconstrói a igreja " perfeita", a visão de Blimunda dá o toque místico da história.
" Apenas disseram adeus, nada mais, que nem uns sabem compor frases, nem os outros entendê-las, mas , passando o tempo sempre se encontrará alguém para imaginar que estar coisas poderiam ter sido ditas, ou fingi-las, e , fingindo, passam então as histórias a ser mais verdadeiras que os casos verdadeiros que elas contam ."
Me sinto meio triste em dizer que não gostei tanto deste livro quanto os outros que li do Saramago ou quanto as pessoas que conheço gostaram. Foi tudo muito bem construído, o romance de Baltazar e Blimunda é emocionante, no entanto achei a narrativa meio lenta, talvez não fosse o momento certo, mas levei muito tempo para ler este livro por desânimo, lia 10 páginas e fechava. Achei o início muito bom e da página duzentos para frente também, mas estas cento e cinquenta páginas que ficaram entre me tiraram a animação.
Sem dúvidas lerei este livro de novo porque preciso prestar mais atenção nele. Blimunda é uma das minhas personagens favoritas, ela é esperta, consciente, forte. Ela fala muito sobre o comportamento das pessoas diante da religião, das coisas da alma. Quando Blimunda toma a hóstia utilizando a visão dela é muito interessante os questionamentos que ela levanta e as afirmações que ela faz. Na passagem em que Blimunda diz que nunca verá o interior de Baltazar, ainda que ele insista, é tão bonito e delicado.
"Pudesses tu ver a nuvem fechada que dentro de ti está,Ou de ti, Ou de mim, pudesses tu vê-la, e saberias que é bem pouco uma nuvem do céu comparada com a nuvem que está dentro do homem, Mas tu nunca viste a minha nuvem, nem a tua, Ninguém pode ver sua própria vontade."
Diálogo entre Blimunda e Baltazar. página 106
Não posso negar que este livro tem muito de Saramago, apesar de ter sentido falta da acidez presente em Caim, tudo muito bem amarrado, as três histórias se convergindo e afetando uma à outra, é sempre um prazer ler algo de Saramago e perceber o quão bem ele escreve. Ainda que tenha me decepcionado um pouco com esta obra, ainda sou uma fã de Saramago.
Por estes motivos Memorial do Convento ganhará:
AMY XO
BEIJOOS!
Oi Amy, tudo bom?
ResponderExcluirVi seu recadinho no skoob e resolvi passar por aqui! Seu blog é muito legal e fiquei muito surpresa em dar de cara logo com uma resenha do Saramago. Esse ano eu estou tentando ler mais clássicos e tenho diversas amigas muito fãs da escrita dele, por isso, estou procurando algumas resenhas dos livros dele!
Adorei esse livro, pois sempre que eu vejo resenha é de Evangelho Segundo Jesus Cristo, e esse é pouco comentado!
Adorei!
Beijão
Endless Poem
Não achei o melhor livro do Saramago, mas ele é bem legal também. Talvez você não ache tantas resenhas, por que se não me engano, ele passou um tempinho fora das livrarias. Mas leia sim, acho que você vai gostar, eu adoooro.
ExcluirBeijoss!
Obrigada